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POESIA


​Carlos Drummond de Andrade

Poema de sete faces
de
​
Alguma Poesia (1930)


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Contexto
Aos 26 anos de idade Carlos Drummond era redator chefe do Diário de Minas. Em uma edição especial no Natal de 1928 (não foi escrito no dia de Natal como alguns acreditam), publica Poema de sete faces sob o pseudônimo de Carlos Alberto.
Em 1930 publica Alguma Poesia  e esse poema foi escolhido para  a abertura do livro, embora não tenha sido o primeiro a ser publicado em jornais. O Poema de sete faces está em todas as antologias e tem sido utilizado para análise por vários críticos. 
Por que o número sete?
Porque sete são as fases da vida de um homem. Acreditava-se que sete eram as criações divinas  e  Shakespeare na peça As you like it  - “Como gostais” , descreve as sete fases da vida, Ato II, Cena 7 fala de Jacques:
"O mundo é um palco,
homens e mulheres são meros atores:
eles entram e saem de cena
seus atos são distribuídos em sete idades."
--------------------------------------------------
“All the world's a stage, 
And all the men and women merely players: 
They have their exits and their entrances; 
And one man in his time plays many parts, 
His acts being seven ages”     
​--------------------------------------------------
Somos atores representando um papel  em uma comédia de sete atos.
1. Ao nascer somos uma criança que chora.
2. Na segunda fase um escolar que ser arrasta a contragosto para a escola.
3. Depois vem a fase do amor sonhado, o jovem escreve versos ao simples olhar da amada.
4. Na quarta fase é a luta, a bravura com as armas,  em busca de uma fama tão fugaz como uma bolha de sabão.
5. Na quinta fase é um profissional que cuida do bigode, um juiz corrupto que se enriquece
6. No sexto ato é um velho, com os músculos flácidos e voz rouca de criança.
7.Não mais tem sabor pela vida, torna-se uma criança sem dentes.
Drummond segue Shakespeare e escreve um poema que associa as fases de sua vida até os seus vinte e seis anos. Ambos acreditam que “a vida não é para ser levada a sério”, que ela é uma comédia, na qual somos meros atores que estamos desaparecendo enquanto se desenrola os atos da vida, ou da peça.
Sete são as estrofes, cada uma descrevendo uma etapa de sua vida, em vez de sete faces podemos interpretar como sete “fases”.
Alguns elementos estão em toda a poesia de Drummond e em particular nessa. Como diz o Prof. Acides Villaça, - Passos de Drummond, nesses poemas iniciais surgem as experiências que se manifestam como incompletude, mascarada ou ironizada.
• Desconforto do indivíduo no conflito do eu com o mundo.
• O contraponto entre a esperança, ingenuidade↑ e o ceticismo, a melancolia, a frustração ao de  deparar com um ideal, um desejo que não se   realiza, a não ser através da escrita da poesia.↓
• O leitor, ao final,  ficará impregnado do sentimento do poeta, da melancolia e da contraposição. Atinge o prazer de conhecer a si mesmo através da  compreensão do poema.


Fase 1. Nascimento e caminho na vida.








​Quando eu nasci↑, um anjo torto. ↓

desses que vivem na sombra.↓ disse:
​
Vai↑, Carlos! ser gauche na vida
↓

Ao nascer, brota uma esperança. Acredita-se que temos um anjo da guarda, um protetor ao longo da vida. Um anjo torto, ao contrário, desviará o poeta do caminho simples e reto. Como um demônio dirá coisas ao poeta que desconhecemos. Os anjos são emissários de luz, esses ao contrário, como Lúcifer,  vivem na sombra.
E o anjo disse: Vai, Carlos! abrindo um novo caminho pleno de esperanças.
O contraponto é:  Ser gauche na vida. O  poeta não terá uma vida fácil, qualquer. Gauche em Francês pode ser entendido como “maldroit”, uma falta de endereço, um caminho incerto e desconhecido.
Drummond volta à questão da infelicidade de seu nascimento no poema : Confidência do Itabirano
​
“ nasci em Itabira, por isso sou triste...e o hábito de sofrer que tanto me diverte, é doce herança itabirana”.

Fase 2.  O menino descobre o sexo.



​As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul↑,
​

não houvesse tantos desejos
↓

O menino descobre o sexo,através das frestas e janelas. Através delas espiam e fofocam sobre os homens adúlteros.
Tudo estaria bem, como em uma tarde calma de céu azul, não fosse o desejo que brota da carne.
No poema  Casamento do Céu  e do Inferno,  do mesmo livro, o mesmo tema:
“No azul do céu de metileno..Diabo espreita por uma frincha… e a carne penetra na carne.”
​

Azul de metileno denota o farmacêutico Carlos Drummond que se formou e nunca exerceu a profissão.

Fase 3 - O jovem na cidade grande - novos horizontes.


​O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.↑

Porém meus olhos

​
não perguntam nada.
↓

Aos dezoito anos Drummond muda-se para Belo Horizonte. Conhece a modernidade, o bonde e Mário de Andrade que visita a cidade em 1924.  As  mulheres elegantes usam meias coloridas, vão sentadas no bonde aberto mostrando as pernas. Belas e inacessíveis, só podem ser admiradas pelo jovem estudante, como na Fase 3 de Shakespeare, onde o homem imagina o amor incapaz de atingir a amada. 
Belo e novo Horizonte é diferente de  Itabira:
Confidência do itabirano
​
“ a vontade de amar.. vem de Itabira, sem mulheres e sem horizontes”.

Fase 4:  Transforma-se em homem sério.

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O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.↑

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos↓
​

o homem atrás dos óculos e do bigode

Na quinta fase da vida Shakespeare propõe um homem de bigode, conforme a foto, época para ganhar dinheiro. 
O jovem estudante boêmio torna-se pai de família. 
A fotografia ilustra o poeta reservado, sério, simples e forte. Dentre os raros amigos, Pedro Nava que descreve o amigo Carlos, como
“a face descarnada, a boca bem desenhada meio encoberta pelos bigodes de época”. 
Memórias/4,

Fase 5: A perda do filho torna fraco o homem forte




​Meu Deus, por que me abandonaste↓

se sabias que eu não era Deus,↓
​

se sabias que eu era fraco.
↓

Carlos Drummond perde um filho que viveu poucas horas. Esta evocação  representa a dor de um pai que perde o filho.
​
Em Mateus, 27:46 - já na cruz, o filho de Deus, Jesus, reclama ao Pai:  “Meu Deus, por que me abandonaste”.
A dor de Jesus, Deus - Filho, pede ao Pai: Por que me deixaste morrer assim? é a mesma de Drummond enquanto pai que perde o filho.
Jesus suportou esta prova, afinal ele era Deus, o poeta, porém,  é humano e fraco, só os versos  podem aliviar essa dor

​Fase 6 : Em busca do verso.  O poema que não quero.






​Mundo mundo vasto mundo↑

se eu me chamasse Raimundo↓

seria uma rima, não seria uma solução.↓

Mundo mundo vasto mundo,↑

​
mais vasto é meu coração 
↑
​

Mário de Andrade em 1925 no artigo A escrava que não é Isaura, observa - “Quanto à rima…. não se discute.”
Não seria difícil para Carlos, fazer versos com rimas simples (mundo / raimundo ;  solução / coração). Porém não era esse o caminho da poesia modernista. A rima e a métrica não é a solução para esta nova poesia.  No editorial da Revista de 1925, para os céticos, Carlos Drummond é um dos editores, ironiza os poetas provincianos com suas métricas e rimas.
No conflito entre o interior humano e o mundo, por mais vasto que ele seja, a vida é maior. O que brota do coração é exclusivo do indivíduo, as coisas do mundo são compartilhadas por todos.  
Como Alberto Caeiro em
 O rio da minha aldeia:
 
“ poucos sabem qual é o rio da minha aldeia...e por isso, porque pertence a menos gente, é mais livre e maior o rio da minha aldeia”.

Fase 7: A confissão do poeta modernista.


Eu não devia te dizer↓

mas essa lua ↑

mas esse conhaque ↑
​

botam a gente comovido como o diabo
.↓

Na prosa coloquial a poesia modernista encontra seu caminho natural.
A estrofe é uma colagem de emoções composta de Natureza (a lua), das coisas (o conhaque) e do indivíduo (a gente).  A expressão vulgar “como o diabo”, fecha a relação de intimidade entre poeta, poema e leitor.
Expulsando o poema de dentro de si o poeta alcança todos os leitores, abraça-os e torna-os cúmplices no sofrimento, aliviando sua própria dor.


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